São apenas 3,5 Km que nos levam do Tua ao Douro, nos permitem caminhar sobre as travessas do velho caminho de ferro, nos apresentam a história e a cultura local, nos deixam provar a gastronomia e os vinhos e ainda nos oferecem um olhar privilegiado sobre o paredão da barragem desenhada por Souto Moura.
“O trilho tem o seu início junto da Porta de Entrada do Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT), segue em direção aos passadiços de Foz-Tua, permitindo caminhar num troço margem à do rio Douro. Em período de ocorrência de cheias existe uma variante, que nos leva até à Foz do rio Tua”, explica Domingos Pires, um dos responsáveis pela Naturthoughts-Turismo de Natureza (NTN), empresa que desenhou e implementou os 12 Percursos Pedestres homologados na área do PNRVT. “Depois de passar pela foz do rio Tua surge uma derivação que nos leva à Casa dos Cantoneiros (Foz-Tua Wine House), um espaço dedicado à divulgação e comercialização de vinhos e produtos regionais do concelho de Carrazeda de Ansiães”, continua o responsável explicando que este é um trilho de experiências, que convidam o visitante a interagir com a comunidade, com os equipamentos culturais, com a paisagem, com a gastronomia, com as história e também com as memórias. “Seguimos em direção ao antigo caminho de ferro, onde podemos caminhar de travessa em travessa até chegar ao Miradouro da Barragem”, refere. E é a partir deste lugar que podemos observar a Barragem e o edifício da subestação obras do prestigiado arquiteto Souto Moura. O mesmo local permite perceber o engenho e a beleza da antiga ponte ferroviária e o túnel das Presas e ainda a ponte rodoviária de Edgar Cardoso. No regresso, retomando a velha linha do Tua, novamente de travessa em travessa, “como todos nesta região fizemos durante muitos anos”, recorda, caminhamos envoltos em memórias até ao Centro Interpretativo do Vale do Tua (CIVT) um equipamento onde encontramos toda a informação sobre “O Vale”, “A Linha do Tua” e a “Barragem”.
“Este é o 12º Percurso Pedestre do PNRVT e nasce com uma filosofia completamente diferente de todos os outros”, esclarece o diretor do PNRVT, Artur Cascarejo. “Todos os outros são orientados para o Turismo de Natureza, para a fauna, flora, biodiversidade, observação de aves, paisagens, etc., este integra espaços de interpretação, património e cultura e integra também o próprio tecido empresarial local, alojamento, restauração e espaços de venda de produtos regionais”, acrescenta.
“É mais um motivo para visitar e para ficar em Foz-Tua”, na ótica do presidente da câmara de Carrazeda de Ansiães, João Gonçalves. “É um trilho que convida as pessoas a conhecer a localidade, todo ele se desenvolve em Foz-Tua”, refere.
A Carta de Homologação deste trilho, atribuída pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), que certifica a qualidade da infraestrutura, a sinalética utilizada e todas as condições de segurança, já foi entregue, o trilho permite que os visitantes o façam de forma autónoma, possui um painel informativo no ponto de partida com a informação necessária e o mapa, a partir daí basta seguir as placas de orientação.
Projeto Escola
O Trilho Foz-Tua, promovido pelo PNRVT e implementado pela NTN, contou ainda com a parceria do município de Carrazeda de Ansiães, União de Freguesias de Castanheiro do Norte e Ribalonga, Escola de Comunicação, Administração e Turismo do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) e Escola Básica 2/3 Luciano Cordeiro, do Agrupamento de Escolas de Mirandela. Foi nesta escola que os alunos do 6º ano foram desafiados a pesquisar sobre diversos temas associados ao turismo de natureza e pedestrianismo e o resultado não podia ter sido melhor: “elaboraram uma maquete do percurso com materiais reciclados, textos para produzir um vídeo promocional e desenhos, que acabaram por se transformar na imagem deste trilho”, explica Domingos Pires. Por sua vez os estudantes do IPB trataram os desenhos produzindo a imagem oficial do folheto e painel informativo do percurso e estão a tratar do vídeo promocional, “tudo isto feito em período de confinamento, devido à pandemia mundial da doença COVID-19”, acrescenta.
“O melhor está para vir”
Numa ação condicionada a um número limitado de pessoas foi feita a “inauguração oficial” do Trilho Foz-Tua, que contou com a presença de Luís Pedro Martins, presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal (ERTPN).
Conhecedor do Vale do Tua este responsável teceu enormes elogios ao PNRVT, pela transformação dos recursos naturais deste Vale em produtos turísticos organizados e exemplarmente promovidos: “Todo o trabalho desenvolvido no Vale do Tua está muitíssimo bem feito. Na promoção é muito importante aliar duas questões, criar conteúdos e saber promovê-los, e o PNRVT está a saber promove-los de uma forma exemplar”, sublinhou.
Luís Pedro Martins acredita que para estes territórios de baixa densidade populacional, com natureza, cultura, património, gastronomia e vinhos “o melhor está para vir”. “Estes territórios, uma vez visitados, fidelizam as pessoas ou são recomendados para que outros venham”, afirma.
A região Norte registava em fevereiro deste ano, antes de eclodir em Portugal a pandemia da doença Covid-19, uma taxa de crescimento de 22%, relativamente ao ano anterior, “ia ser um ano fabuloso”. As quebras no setor do Turismo foram graves mas a retoma já se começa a sentir e, segundo aquele responsável, verifica-se uma procura crescente de locais tranquilos e menos povoados: “90% dos turistas atuais são nacionais e já não é a Área Metropolitana do Porto a registar maior procura, é Trás-os-Montes, o Douro e o Minho” revela. Houve uma “inversão” completa da procura, que ainda aguarda pelo regresso dos turistas de Espanha, que representam o principal mercado emissor de turistas para o Norte de Portugal.
E para que os territórios possam beneficiar desta nova realidade é fundamental que a comunicação funcione, que a promoção seja eficaz, que exista produto turístico organizado e tudo isso o Vale do Tua já tem.
“Queria deixar uma nota, a comunicação do Tua é verdadeiramente inspiradora, apelidar este Vale de Destino do Amor foi brilhante”, sublinhou.
“O Amor à terra, às origens, à gastronomia, o amor pela natureza pela cultura pelos lugares o amor dos aventureiros e dos desportistas e até o amor dos preguiçosos que podem, simplesmente, estender uma manta num qualquer lugar deste vasto vale, e por ali ficar a relaxar…”, concluiu o presidente da ERTPN.
Elogios que Artur Cascarejo entendeu como mais um estímulo para continuar a trabalhar no que apelida de “condições de contexto”, que passa pela organização de produtos turísticos que possam ser usados e beneficiar os operadores turísticos locais, de forma a incentivar novos investimentos, criar mais postos de trabalho e riqueza na região, único caminho para alcançar o desenvolvimento económico e a sustentabilidade social, e para combater o despovoamento e o abandono do território.