Site logo

Controlo de Pragas por Morcegos

O projeto de controlo de pragas agrícolas por morcegos surgiu com base em estudos prévios realizados no delta do Ebro, em Espanha, onde a colocação de caixas-abrigo para morcegos permitiu que estes se estabelecessem com maior proximidade em terrenos agrícolas. Deste modo, através da predação que exercem sobre diversas espécies de insetos, foi possível controlar com maior eficácia o impacto das pragas, reduzindo a necessidade de recorrer a pesticidas. Estes fenómenos, onde a ação natural de uma determinada espécie é benéfica para a Humanidade, são designados serviços dos ecossistemas.

Com o propósito de averiguar a utilidade dos serviços dos ecossistemas prestados pelos morcegos na proteção da agricultura em Trás-os-Montes, o Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT), em parceria com o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), deu início a este projeto. O objetivo primário é potenciar o controlo biológico por morcegos de pragas da vinha, olival e sobreiral, permitindo aos produtores reduzir os gastos com pesticidas.

Os trabalhos começaram com a identificação de proprietários dispostos a participar no projeto, cujos terrenos se encontrassem dentro da área do PNRVT. Com a ajuda das associações florestais Aflodounorte e Silvidouro conseguimos intervencionar em 42 propriedades. De seguida procedeu-se à implementação de postes de madeira, que iriam suportar as caixas-abrigo.

Terminada a fase de implementação a 16 março de 2017, deu-se início à fase de monitorização das caixas, para verificar a sua ocupação por morcegos e recolha de fezes para análise laboratorial da sua dieta.

Os primeiros morcegos nas caixas-abrigo foram observados ainda em maio de 2017, com uma taxa de ocupação de 27%, das 100 caixas colocadas. Ao longo desse ano, esta percentagem foi aumentando, atingindo os 80% em setembro. 

O trabalho de amostragem e monitorização teve continuidade durante o ano de 2018, tendo a taxa de ocupação oscilado entre os 56% e os 71%. Entre junho e julho deste ano foram encontradas pela primeira vez no projeto colónias com crias e juvenis no interior das caixas-abrigo, representando um passo importante na fixação das populações nas caixas. 

Durante o ano de 2019, e com base na amostragem dos anos anteriores, foram examinados os resultados das análises laboratoriais, o que permitiu determinar 116 espécies de pragas consumidas pelos morcegos. Assim, de entre as várias espécies detetadas, destacam-se a traça-da-oliveira (Prays oleae), a mosca-de-asa-manchada (Drosophila suzukii), a traça-da-uva (Lobesia botrana), a lagarta-do-sobreiro (Lymantria dispar), o bichado-da-castanha (Cydia fagiglandana), a lagarta-do-tomate (Helicoverpa armigera), a processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa), entre outras.

No geral, e com base nos resultados, quer de ocupação das caixas-abrigo, quer das análises laboratoriais das amostras de 1206 fragmentos de guano, o projeto apresentou um balanço positivo, comprovado pela elevada taxa de ocupação (cerca de 90%), bem como pela abrangência de espécies praga consumidas, assim o potencial de controlo biológico dos morcegos revelou ser notório, o que representa a concretização dos objetivos primordiais do projeto.

Tal como assumido, os resultados finais do Projeto foram divulgados a 16 de julho de 2021, no município de Vila Flor, numa sessão aberta ao público. 

Com a conclusão do projeto deixamos de monitorizar mensalmente as caixas-abrigo, contudo a sua manutenção é realizada anualmente. É importante referir que os morcegos continuam a fazer o seu papel, ao controlar com maior eficácia o impacto das pragas, e assim, reduzir o uso de pesticidas.

Traduzir»