A Microrreserva do Rio Tinhela, em parte devastada pelos incêndios do verão, foi a área escolhida pelo Parque Natural Regional do Vale do Tua, para desenvolvimento de projeto piloto de reflorestação inovador.
No processo de reflorestação, mais do que substituir as árvores ardidas, o Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT) vai introduzir um equipamento inovador, nunca até agora usado em Portugal, e que responde às necessidades imediatas de garantir uma maior taxa de sobrevivência às espécies replantadas e combater as dificuldades sentidas em zonas áridas, particularmente em anos de seca prolongada, como foi o caso.
“Trata-se de um recipiente, feito a partir de pasta de papel reciclado, desenhado especificamente com o intuito de reduzir o desperdício de água e aumentar a taxa de sobrevivência das plantas. O objetivo é permitir a germinação e cultivo sustentável, a nível económico e sobretudo hídrico, em zonas áridas ou afetadas por secas, por todo o país”, explica Pedro Leote, biólogo que coordenou a preparação do projeto. Este recipiente, que tem a designação comercial de Growboxx, vai ser introduzido no solo juntamente com a planta, permitindo que a sua raiz cresça livremente e sem ter nenhum efeito poluidor do solo. Uma solução que foi pensada para combater a seca em zonas áridas que, na opinião do biólogo, “faz todo o sentido na região”, com o objetivo de encontrar “estratégias mais responsáveis”, que consigam mitigar as adversidades naturais.
Este projeto, desenvolvido pelo PNRVT, acaba de ser submetido ao Prémio ICNF 2017 “Uma Ideia Natural”, uma iniciativa do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas em parceria com o Fundo Ambiental, que financia, até 50 mil euros, as candidaturas que melhor respondam aos seguintes critérios: Manutenção de Habitats; Recuperação de Espécies; Restauro de Habitats; Valorização de Territórios.
Recordamos que em julho passado um incêndio, de proporções consideráveis, destruiu mais de 4 600 hectares de bosques e terrenos agrícolas nos concelhos de Murça e Alijó. Foi afetada uma área considerável da Microrreserva do Rio Tinhela, com cerca de 60 hectares, zona de particular interesse de conservação. Este acontecimento serviu para o PNRVT decidir, sem mais hesitações, a localização do projeto piloto cuja ideia já estava a ser trabalhada dentro daquela área protegida. “Entretanto apareceu esta iniciativa do ICNF, o Prémio Uma Ideia Natural, e resolvemos candidatar-nos e aproveitar o incentivo que o prémio atribui aos vencedores”, explicou o diretor do PNRVT, Artur Cascarejo, sublinhando que “com ou sem apoio” o projeto vai avançar.
Dentro de pouco tempo arrancam as medidas de engenharia natural para a estabilização das vertentes e redução da erosão dos solos, enquanto se vai também fazendo a recolha de propágulos de espécies silvestres e a aquisição de plantas já germinadas em viveiros.
Segue-se a fase da plantação em sementeira/viveiro dos propágulos recolhidos e distribuição pelas populações das freguesias e a replantação e monitorização dos espécimes adquiridos em viveiro. É nesta fase que as referidas caixas/reservatórios vão ser colocadas no solo juntamente com cada uma das plantas. A monitorização da zona replantada é uma das principais componentes do projeto, não apenas porque permite com celeridade intervir e substituir as plantas que não sobreviveram, mas porque vai permitir aferir os reais resultados do equipamento que aqui vai ser usado pela primeira vez em território nacional. “Estes equipamentos chegam dos Países Baixos, acreditamos que vão funcionar muito bem no nosso território mas teremos de confirmar”, acrescenta Artur Cascarejo, vendo nestes simples “engenhos” uma estratégia que poderá ser replicada dentro do PNRVT, na região e no país.
“Não podemos repetir erros de continuar a agir sem estratégia, o país exige-nos uma postura pró-ativa e que se aposte de forma determinada na prevenção”, remata.